Torquato Pereira de Araújo Neto (
Teresina,
9 de novembro de
1944 —
Rio de Janeiro,
10 de novembro de
1972) foi um poeta, jornalista, letrista de música popular, experimentador da contracultura da
cultura brasileira.
Torquato Neto era filho de um defensor público (Heli da Rocha Nunes) e de uma professora primária de Teresina (Maria Salomé Nunes). Mudou-se para Salvador aos 16 anos para os estudos secundários, onde foi contemporâneo de
Gilberto Gil no Colégio Nossa Senhora da Vitória e trabalhou como assistente no filme
Barravento, de
Gláuber Rocha.
Torquato envolveu-se ativamente na cena cultural soteropolitana, onde conheceu, além de
Gilberto Gil,
Caetano Veloso,
Gal Costa e
Maria Bethânia. Em
1962, mudou-se para o
Rio de Janeiro para estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar. Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas sobre cultura no
Correio da Manhã,
Jornal dos Sports e
Última Hora.
Torquato Neto atuava como um agente cultural e polemista defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a
Tropicália ou Panis et Circencis, o
Cinema Marginal e a
Poesia Concreta, circulando no meio cultural efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas
Décio Pignatari,
Augusto e
Haroldo de Campos, o cineasta
Ivan Cardoso e o artista plástico
Hélio Oiticica. Nesta época,
Torquato Neto passou a ser visto como um dos participantes do Tropicalismo, tendo escrito o breviário "Tropicalismo para principiantes", onde defendeu a necessidade de criar um "pop" genuinamente brasileiro: "Assumir completamente tudo que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido". Torquato também foi um importante letrista de canções que se tornaram ícones do movimento tropicalista.
No final da
década de 1960, com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros
Gilberto Gil e
Caetano Veloso,
Torquato Neto viajou pela Europa e
Estados Unidos com a mulher Ana Maria e morou em
Londres por um breve período. De volta ao Brasil, no início dos
anos 1970, Torquato começou a se isolar, sentindo-se alienado tanto pelo
Regime Militar quanto pela "patrulha ideológica" de esquerda. Passou por uma série de internações para tratar do alcoolismo, e rompeu diversas amizades. Em julho de 1971, escreveu a
Hélio Oiticica: "O chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais tem opinião sobre coisa alguma. Todo mundo virou uma espécie de
Capinam (esse é o único de quem eu não gosto mesmo: é muito burro e mesquinho), e o que eu chamo de conformismo geral é isso mesmo, a burrice, a queimação de fumo o dia inteiro, como se isso fosse curtição, aqui é escapismo, vanguardismo de Capinam que é o geral, enfim, poesia sem poesia, papo furado, ninguém está em jogo, uma droga. Tudo parado, odeio."
Torquato se matou um dia depois de seu 28º aniversário, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro e abriu o gás. Sua mulher dormia em outro aposento da casa. O escritor foi encontrado na manhã seguinte pela empregada da família.
Leia a
Nota de Suicídio de Torquato Neto